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segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Por que se busca

 

Por que se busca uma verdade transcendente? Por que não nos basta sermos apenas isso, um nada? Há algo além do nada. Existe coisa fora da beleza das flores que encharcam a alma? Como que se estabelece uma ligação com o superior? Tenhamos por verdade: Não se procura fora o que está dentro. Não se espera recompensas... Não é pra isso que se busca. O desejo da recompensa contamina, obstrui o caminho. E o que se busca, então? Talvez se soubéssemos o que se quer, já o teríamos. Há algo de mistério aí. É um caminhar por caminhar, assim como o espermatozoide busca sem saber que o óvulo o espera. O homem, assim como o salmão, quer retornar ao lugar de onde veio.

domingo, 11 de setembro de 2011

Pérola


A vida na platéia se presta ao desconserto.
Quando as cortinas abriram, guardavam sonoro silêncio. Sob a luz estavam a cadeira com toalha no encosto e a bacia de água quente. Havia outros objetos pequenos também, da última fila não se permitia a identificação.
Pérola, falso nome de alguém que se dedicara ao ostracismo das virtudes naquele drama tão pequeno quanto eterno, entrou, retirou o casaco para deixá-lo mais ao canto e, em frente a todos, falou:
-          Eu estou aqui para me depilar.
Despiu-se sem grandeza, pegou a tesoura e cortou os cabelos o mais curto que pôde. Com aparelho de barbear, água quente e sabão, deixou a cabeça completamente nua. Rasgava o sangue onde a gilete sem pensamentos distraiu-se. Seguiu o roteiro com nada de improviso: depilou sobrancelhas, axilas e púbis. Levantou-se e então por causa da dor, ou apesar dela, não se pode afirmar, a leveza se fez bela como um poema soprado. Concluiu:
-          Me desculpem. Eu pequei.
Impulsos contidos, inertes as pedras incandescentes.
Virou-se e partiu em silêncio, abandonando água, rendas e sedas.