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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Since I've Been Loving You

Since I've Been Loving You

Sempre tive curiosidade pela tradução dessa música do Led Zeppelin, então resolvi procurar na internet. A letra fala basicamente de frustração (é o que acho). Ia colocá-la no blog, mas desisti. Apesar de contar algo comovente, acho que a letra (ou a tradução) fica aquém da melodia. 


Desde então quando dedico meu tempo a Since I've Been Loving You ouço-a simplesmente, sem traduções.

domingo, 11 de setembro de 2011

Pérola


A vida na platéia se presta ao desconserto.
Quando as cortinas abriram, guardavam sonoro silêncio. Sob a luz estavam a cadeira com toalha no encosto e a bacia de água quente. Havia outros objetos pequenos também, da última fila não se permitia a identificação.
Pérola, falso nome de alguém que se dedicara ao ostracismo das virtudes naquele drama tão pequeno quanto eterno, entrou, retirou o casaco para deixá-lo mais ao canto e, em frente a todos, falou:
-          Eu estou aqui para me depilar.
Despiu-se sem grandeza, pegou a tesoura e cortou os cabelos o mais curto que pôde. Com aparelho de barbear, água quente e sabão, deixou a cabeça completamente nua. Rasgava o sangue onde a gilete sem pensamentos distraiu-se. Seguiu o roteiro com nada de improviso: depilou sobrancelhas, axilas e púbis. Levantou-se e então por causa da dor, ou apesar dela, não se pode afirmar, a leveza se fez bela como um poema soprado. Concluiu:
-          Me desculpem. Eu pequei.
Impulsos contidos, inertes as pedras incandescentes.
Virou-se e partiu em silêncio, abandonando água, rendas e sedas.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A infância na versão de Chico Buarque

Duas vezes Chico



Minha História – versão de Chico Buarque

Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar
Sei que tinha tatuagem no braço e dourado no dente
E minha mãe se entregou a esse homem perdidamente

Ele assim como veio partiu não se sabe pra onde
E deixou minha mãe com o olhar cada dia mais longe
Esperando, parada, pregada na pedra do porto
Com seu único velho vestido cada dia mais curto

Quando enfim eu nasci minha mãe embrulhou-me num manto
Me vestiu como se fosse assim uma espécie de santo
Mas por não se lembrar de acalantos, a pobre mulher
Me ninava cantando cantigas de cabaré

Minha mãe não tardou a alertar toda a vizinhança
A mostrar que ali estava bem mais que uma simples criança
E não sei bem se por ironia ou se por amor
Resolveu me chamar com o nome do Nosso Senhor

Minha história é esse nome que ainda hoje carrego comigo
Quando vou bar em bar, viro a mesa, berro, bebo e brigo
Os ladrões e as amantes, meus colegas de copo e de cruz
Me conhecem só pelo meu nome Menino Jesus.


O Meu Guri – Chico Buarque

Quando, seu moço
Nasceu meu rebento
Não era o momento
Dele rebentar
Já foi nascendo
Com cara de fome
E eu não tinha nem nome
Prá lhe dar
Como fui levando
Não sei lhe explicar
Fui assim levando
Ele a me levar
E na sua meninice
Ele um dia me disse
Que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega suado
E veloz do batente
Traz sempre um presente
Prá me encabular
Tanta corrente de ouro
Seu moço!
Que haja pescoço
Prá enfiar
Me trouxe uma bolsa
Já com tudo dentro
Chave, caderneta
Terço e patuá
Um lenço e uma penca
De documentos
Prá finalmente
Eu me identificar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega no morro
Com carregamento
Pulseira, cimento
Relógio, pneu, gravador
Rezo até ele chegar
Cá no alto
Essa onda de assaltos
Tá um horror
Eu consolo ele
Ele me consola
Boto ele no colo
Prá ele me ninar
De repente acordo
Olho pro lado
E o danado já foi trabalhar
Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí!
Olha aí!
É o meu guri e ele chega!
Chega estampado
Manchete, retrato
Com venda nos olhos
Legenda e as iniciais
Eu não entendo essa gente
Seu moço!
Fazendo alvoroço demais
O guri no mato
Acho que tá rindo
Acho que tá lindo
De papo pro ar
Desde o começo eu não disse
Seu moço!
Ele disse que chegava lá
Olha aí! Olha aí!
Olha aí!
Ai o meu guri, olha aí
Olha aí!
E o meu guri!

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Os nós

Juntos poesia e reflexão sobre a vida. 

Ao Fim de Tudo - Cidadão Quem

Minhas lágrimas não caem mais
Eu já me transformei em pó
E os meus gritos não se escutam mais
Estão na direção do sol
Meu futuro não me assusta ou faz
Correr pra desprender o nó
Que me amarra a garganta e traz o vazio de viver e só
Se alguém encontrou um sentido pra vida, chorou
Por aumentar a perda que se tem ao fim de tudo
Transformando o silêncio que até então é mudo
Naquela canção que parece encontrar a razão
Mas que ao final se cala 
Frente ao tempo que não para
Frente a nossa lucidez


E por falar em desprender e desatar os nós, tem mais uma:



Nova - Gilberto Gil


Me disse vai embora, eu não fui 
Você não dá valor ao que possui 
Enquanto sofre, o coração intui 
Que ao mesmo tempo que magoa 
O tempo, o tempo flui 
E assim o sangue corre em cada veia 
O vento brinca com os grãos de areia 
Poetas cortejando a branca luz 
E ao mesmo tempo que machuca o tempo, me passeia 
Quem sabe o que se dá em mim? 
Quem sabe o que será de nós? 
O tempo que antecipa o fim 
Também desata os nós 
Quem sabe soletrar adeus 
Sem lágrimas, nenhuma dor 
Os pássaros atrás do sol 
As dunas de poeira 
O céu de anil do pólo sul 
Há dinamite no paiol 
Não há limite no anormal 
É que nem sempre o amor 
É tão azul 
A música preenche sua falta 
Motivo dessa solidão sem fim 
Se alinham pontos negros de nós dois 
E arriscam uma fuga contra o tempo 
O tempo salta

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A arte de ler

Breve reflexão sobre a arte de ler

Ler é arte? Seguramente. Tornar-se leitor é partilhar da construção do texto, dando a este todos os significados que as vivências e sentimentos permitirem.
Numa espécie de beabá, comecemos por Marcelino Freire, escritor brasileiro, que disse: “Tem gente que fala que tem influências de outros escritores, acho isso uma sacanagem com o porteiro do prédio, os amigos do trabalho”. O porteiro, o amigo, o estranho na esquina, o cão da vizinha, a vida é a matéria-prima do escritor, da soma de ingredientes surge a ficção; a dose, a mistura, é receita que só deve ser usada uma vez, gerando obra única, original.
Essa obra por vezes vai ao âmago, o leitor a percebe reflexo daquilo que sente. Lembro Mário Quintana: “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele!”
Fruto da criatividade e da sensibilidade, a obra literária, além de “ler o leitor” desvenda, mostra, trás luz ao que não está óbvio. Valho-me de Paul Klee, artista plástico: “O pintor não deveria reproduzir o visível, e sim tornar visível”. Ao que parece, as artes têm o desvendar como aspecto comum. Mas tal não é tão claro, definido. E, por isso, não existe a “versão certa”, a “interpretação definitiva”, o caminho do livro é pessoal e reflete o momento do leitor. É assim que o mesmo livro, lido com intervalo de anos, mostrará aspectos antes ocultos.
Concluo com Robert Bresson, cineasta: “O importante não é o que eles (os atores) me mostram, mas o que eles escondem de mim, e sobretudo o que eles não suspeitam que está dentro deles.” Novamente em outra expressão artística encontro referências sobre as descobertas. O livro que alguém lê não é lido por mais ninguém, compartilha-se apenas o título. O leitor reinventa, a cada leitura, a arte de ler: ele é senhor da interpretação.
Então, pode-se dizer, a cada leitura descobrimos o que o escritor esconde e, sobretudo, o que ele não suspeita estar no seu texto...

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ótica

Do livro de contos "A raiz e a copa":

            
E se não é miragem? E se o azul é de um mar que secou? Porque a impressão por vezes é resquício de fato passado, verdade latente dando volta, querendo acordar. Ao contrário de sempre, recordar não é revirar mofo, é abanar lenço do navio que atraca.
            Sob a ótica de um jogo de lentes futuro e passado estão juntos para desespero da razão. Esperam a mesma areia no orifício do tempo.
            Só por isso as coisas têm ciclos.
            E um milionésimo de segundo se reflete eternamente no pingo da chuva feito prisma, embora o arco-íris cintile parecendo coisa nova.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Diabo do corpo

Estar com o diabo no corpo, expressão popular inspirando música. E em dose dupla.

Diabo No Corpo - Pedro Abrunhosa

Corpo!
Como um mapa sagrado
Em ti desenho o pecado
Escrevo no mundo
No meu corpo...
Com um toque divino
Faço da pele o destino
Sente nas mãos
Este meu corpo
Uma estátua ardente
E a cada toque teu...
Até a passarela devagar
Se vai abrir por ti
E toda a música que ouvires
Irá ser por existires
Sempre que digo:
Uuuuuuuh!
Tenho o Diabo no Corpo
Uuuuuuuh!
Tenho o Diabo no Corpo
Oh! Oh! Oh!
Leva meu corpo
Por um momento eterno
Fazes-me a vida um inferno
Escondo um louco
No meu corpo
Um infinito prazer
Por isso:
"Qu'est-ce qu'on va faire?".
Só tenho tempo
Pr'o o meu corpo
Como uma sombra inquieta
E nessa voz discreta...
Até a passarela devagar
Se vai abrir por ti
E toda a música que ouvires
Irá ser por existir
Sempre que digo:
Uuuuuuh! ah! ah!
Tenho o Diabo no Corpo
Uuuuuuh!
Tenho o Diabo no Corpo...
Uuuuuuh!
Tenho o Diabo no Corpo
Uuuuuuh!
Tenho o Diabo no Corpo



Tô com o Diabo no Corpo  - Paulinho Tapajos

Tô queimando de amor
Deixa queimar
Seja lá como for
Quero é calor
Acabei de beber todo o sol com pimenta
E depois de agüentar a tormenta
Ninguém vai me agüentar
Tô queimando de amor
Deixa queimar
Deixa assim como está
Deixa esquentar
A noite inteira eu sou coração de fogueira
Um vulcão e um montão de besteira
À se espalhar
Eu sou palhaço poeta devasso
Um pedaço do bem e do mal
Louco por pouco ou por tanto
Um encanto que não tem final
Um pecado guardado
Aguardando querendo pecar
Sou brasa acesa eu sou sobremesa
Princesa do reino irreal
Tenho a mania e a maneira
De ser feiticeira fatal
Sou um doce salgado
Um sonho safado
Febre de alucinar.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Literatura da Morte

Textos que eu gostaria de haver escrito.

Noite - Menotti Del Picchia

As casas fecham as pálpebras das janelas e dormem.
Todos os rumores são postos em surdina,
todas as luzes se apagam.
Há um grande aparato de câmara funerária
na paisagem do mundo.
Os homens ficam rígidos,
tomam a posição horizontal
e ensaiam o próprio cadáver.
Cada leito é a maquete de um túmulo.
Cada sono em ensaio de morte.
No cemitério da treva
tudo morre provisoriamente.





- Paulo Leminski:

    Aqui jaz um grande poeta. Nada deixou escrito. Este silêncio, acredito, são suas obras completas.

sábado, 16 de julho de 2011

Não é céu - Vitor Ramil

Não é céu

Não é céu sobre nós
Dele essa noite não veio
E muito menos vai o dia chegar
Se chegar, não é sol
Quem sabe a luz de um cigarro
Que desaba do vigésimo andar
É fogo, mora
Deixa essa brasa descer lá fora
Deixa o mundo todo queimar
É cedo, cedo
Fica comigo, me abraça
Que calor melhor a rua não dá
Não é céu sobre nós
Se fosse o céu que se conta
Não seria a ponta acesa a brilhar
Se brilhou, não é sol
Se fosse o sol desabando
Nem meu quarto ia poder te salvar
É fogo, mora
Gente na brasa a gritar lá fora
Só nos falta Nero cantar
É cedo, cedo
Fica comigo, me abraça
Que calor melhor a rua não dá
Não é céu sobre nós
Não vimos noite passando
E essa luz não fez o galo cantar
Se cantou, não é sol
Dia nascendo normal
A gente acorda e não costuma gritar
É fogo, mora
Deixa essa brasa sumir lá fora
Deixa o galo nos acordar
É cedo, cedo
Fica comigo, me abraça
Que calor melhor a rua não dá

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O clone - Lula Côrtes

     O que circulava nas veias de Lula Côrtes? A letra "O clone" responde. Conheci esse cara num programa de TV, ambos já meio passados na idade e, por estranhezas que não explico, desconhecia seu trabalho. Fui atrás e descobri várias letras interessantes.

O clone - Lula Côrtes


Fica difícil
Porque isso pra mim não é só um ofício
Eu podia ser político e fazer comício
Mas prefiro dar uma bola e vir cantar

Eu falo tudo
Dou minha opinião sobre esse mundo
Às vezes de tão triste eu vou mais fundo
Exponho a minha alma na bandeja

E você veja,
Não se trata de plágio ou coisa parecida
É só minha emoção, isso é somente a vida
É rock'n'roll na veia e nada mais, 
nada mais, nada mais, nada mais

Eu busco paz
No tempo em que seu rosto se esconde
Um monstro atrás da capa como um conde
Sugando o que nos resta de alegria

Digo bom dia
Às transeuntes desta rua fria
Saindo de um pub com as mãos vazias
E a alma transparente e bem lavada

Isso é um clone
A força que ele emana é que nos une
São três ou quatro acordes que se fundem
E rock'n'roll na veia e nada mais
nada mais, nada mais, nada mais

Fica difícil
Porque isso pra mim não é só um ofício
Eu podia ser político e fazer comício
Mas prefiro dar uma bola e vir cantar

Eu falo tudo
Dou minha opinião sobre esse mundo
Às vezes de tão triste eu vou mais fundo
Exponho a minha alma na bandeja

Mas você veja,
Não se trata de plágio ou coisa parecida
É só minha emoção, isso é somente a vida
É rock'n'roll na veia e nada mais, 
nada mais, nada mais, nada mais

Digo bom dia
Às transeuntes desta rua fria
Saindo de um pub com as mãos vazias
E a alma transparente e bem lavada
bem lavada, bem lavada, bem lavada

Isso é um clone
A força que ele emana é que nos une
São três ou quatro acordes que se fundem
E rock'n'roll na veia, rock'n'roll na veia
rock'n'roll na veia...